Florbela Espanca nasceu em 1894 e faleceu em 1930, tendo vivido 36 anos de dor. Foi uma poetisa portuguesa, autora de sonetos e contos importantes na literatura de Portugal. A sua poesia é conhecida por ter um estilo emocional e peculiar.
Nasceu na vila Viçosa-Alentejo, como filha ilegítima de João Maria Espanca e de Antónia da Conceição Lobo. Foi casada três vezes, no entanto nunca teve sorte. Ficou doente graças a um aborto espontâneo que sofreu quando era ainda muito jovem, mas o que lhe marcou a vida foi a morte do seu irmão, Apeles Espanca. Isso colaborou para que Florbela desenvolvesse problemas mentais e tentasse suicídio um ano após a morte do irmão.
A sua primeira obra foi publicada quando ainda estudava na faculdade, “Livro de Mágoas” em 1919.
A poetisa não se sentia atraída por causas sociais, preferindo exprimir os acontecimentos que diziam respeito à sua condição sentimental nos seus poemas.
Ódio
Ódio por Ele? Não... Se o amei tanto,
Se tanto bem lhe quis no meu passado,
Se o encontrei depois de o ter sonhado,
Se à vida assim roubei todo o encanto,
Que importa se mentiu? E se hoje o pranto
Turva o meu triste olhar, marmorizado,
Olhar de monja, trágico, gelado
Com um soturno e enorme Campo Santo!
Nunca mais o amar já é bastante!
Quero senti-lo doutra, bem distante,
Como se fora meu, calma e serena!
Ódio seria em mim saudade infinda,
Mágoa de o ter perdido, amor ainda!
Ódio por Ele? Não... não vale a pena...
Se tanto bem lhe quis no meu passado,
Se o encontrei depois de o ter sonhado,
Se à vida assim roubei todo o encanto,
Que importa se mentiu? E se hoje o pranto
Turva o meu triste olhar, marmorizado,
Olhar de monja, trágico, gelado
Com um soturno e enorme Campo Santo!
Nunca mais o amar já é bastante!
Quero senti-lo doutra, bem distante,
Como se fora meu, calma e serena!
Ódio seria em mim saudade infinda,
Mágoa de o ter perdido, amor ainda!
Ódio por Ele? Não... não vale a pena...
In memoriam
Na cidade de Assis, Il Poverello
Santo, três vezes santo, andou pregando
Que o sol, a terra, a flor, o rocio brando,
Da pobreza o tristíssimo flagelo,
Que o sol, a terra, a flor, o rocio brando,
Da pobreza o tristíssimo flagelo,
Tudo quanto há de vil, quanto há de belo,
Tudo era nosso irmão! - E assim sonhando,
Pelas estradas da Umbria foi forjando
Da cadeia do amor o maior elo!
Tudo era nosso irmão! - E assim sonhando,
Pelas estradas da Umbria foi forjando
Da cadeia do amor o maior elo!
“Olha o nosso irmão Sol, nossa irmã Água…”
Ah! Poverello! Em mim, essa lição
Perdeu-se como vela em mar de mágoa
Ah! Poverello! Em mim, essa lição
Perdeu-se como vela em mar de mágoa
Batida por furiosos vendavais!
- Eu fui na vida a irmã de um só irmão,
E já não sou a irmã de ninguém mais!
- Eu fui na vida a irmã de um só irmão,
E já não sou a irmã de ninguém mais!
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